quinta-feira, agosto 25, 2005

A enxada

O tempo do "Camarada, essa enxada não é tua, é da cooperativa!" já la vai... A reforma agrária, infelizmente, não funcionou, mas o Alentejo ainda está vivo e recomenda-se. Escrevo da biblioteca municipal de Montemor-o-Novo, construída sobre um velho convento, e daqui posso dizer que há de tudo um pouco disponível para quem quiser.
Recomendo uma visita a esta parte do Alto Alentejo. Vale a pena! Não se vão arrepender.

quarta-feira, agosto 17, 2005

Uma pedra de gelo no Verão

Desde cedo que me lembro de ler sobre a múmia gelada de um homem, caído morto nos Alpes perto de Hauslabjoch à cerca de 5200 anos. Acho que aí desde 92-93, pois lembro-me distintamente de ver um folheto afixado sobre isso numa aula de história por alturas da minha escola preparatória. É apelidado de Ötzi porque a zona onde foi descoberto durante um degelo extraordinário em 1991 é conhecida como os Alpes Ötzal - ali na zona fronteiriça entre a Itália e a Áustria. Na altura em que li mais avidamente sobre ele (90 e tais), ainda não se tinha descoberto a ponta de seta da qual parece ter morrido mas graças à televisão por cabo e a uma pequena maravilha chamada canal Odisseia pude ir completando visualmente e auditivamente o que lia na Internet. Para comprender a forma como o Ötzi viveu recomendo aos meus hipotéticos leitores um fabuloso jogo de computador - o UnReal World do Sami Maaranen. Não só para compreender o Ötzi mas todo um período da história que vai desde a Idade do Gelo, passando pelo Paleolítico até à Idade do Ferro (aí por alturas da Guerra das Gálias). De facto o UnReal World tem como idade de referência a Idade do Ferro na Finlândia mas a compreensão da forma de viver estende-se até esses períodos longuínquos que referi. Irá ver de facto o que é viver para arranjar comida, o sacrifício que é arranjar abrigo ou a dificuldade de fabricar uma flecha.



Mais sobre o Ötzi aqui:
Ötzi's Last Journey
The Iceman's Last Meal

O UnReal World é shareware e custa 30 EUR. Bem empregues. Diz ao Sami que vens da minha parte.

Já que falei do Paleolítico porque não incitar-vos a uma visita ao Parque Arqueológico do Vale do Côa? Eu estive lá à uns anos com uns compinchas e fiquei muitíssimo bem impressionado com a estrutura montada em volta das gravuras. Thumbs up para o Ministério da Cultura.

quinta-feira, agosto 11, 2005

A lista do Marcelo...

Neste último post parecia o Marcelo Rebelo de Sousa, a recomendar este livro, e mais aquele CD e este tupperware, que vai ao micro-ondas e tal...

Com uma ligeira ressalva:

Eu leio e vejo o que posteriormente recomendo, não me limito a fazer publicidade.

Plágio ou tributo?

Está na hora do geek!

Vou deixar de parte a crónica sócio-económica (muito bem entregue ao meu caro camarada Slinkman, mais culto e mais consciente que a minha pessoa) e enveredar por outros caminhos. Ao espreitar um draft do meu amigo F.S. (que me perdoe o atrevimento e a inconfidência) encontrei uma referência sobre Gene Wolfe, um dos seus escritores favoritos e mestre da ficção científica, por direito próprio. Ora, isto reacendeu o meu interesse pelo autor e levou-me a procurar na Internet informações que complementassem o meu parco conhecimento da sua obra (no meu currículo consta apenas a leitura da tetralogia "The Book of the New Sun" - considerada o seu melhor trabalho). Encontrei assim referência a um livro que escreveu em 1986, "The Soldier of the Mist", protagonizado por um mercenário oriundo do norte da península helénica, nos longíquos anos do século V A.C., que ao receber um golpe na cabeça perde a memória de curto prazo, necessitando diariamente de escrever tudo o que acontece após o momento da pancada, sob pena de o esquecer assim acordar para um novo dia. Recordei-me imediatamente: já vi isto em algum lado! O filme "Memento" de Christopher Nolan e um jogo de PC, "Planescape: Torment" assentavam o seu enredo em protagonistas que padeciam dessa mesma condição, se bem que com algumas variantes... Ambos os trabalhos possuem, na minha opinião, uma qualidade assinalável e não trarão porventura mácula ao conceito que terá sido criado por Wolfe no seu romance. Digo "terá sido criado" porque como antes não conhecia a influência deste romance no filme de Nolan e no jogo PC, também neste momento desconheço se o trabalho de Wolfe é resultado de uma influência anterior (nem sequer li o livro). Mas uma dúvida instala-se no meu raciocínio: serão estes trabalhos possíveis tributos ao conceito de Wolfe ou poderão ser considerados plágio? Creio que as minhas dúvidas poderiam ser esclarecidas se nos agradecimentos que geralmente constam da lista de créditos destes trabalhos fosse referido o nome de Wolfe. Mas neste momento não sei se isso ocorrerá. Acho perfeitamente legítimo ir buscar influências e inspiração em trabalhos de qualidade de outros autores, desde que lhe seja atribuído o devido crédito, e não se tente fazer passar por inovador e original. Até porque um bom conceito possui um potencial que raramente poderá ser explorado apenas por um autor, e que até poderá ganhar valor com a visão diferente proporcionada pela criatividade de diferentes autores.

Assim sendo recomendo vivamente:

Gene Wolfe - escritor magnífico de Sci-Fi
"Planescape: Torment" - Jogo PC da Black Isle
"Memento" - Filme de Christopher Nolan

quarta-feira, agosto 10, 2005

A Televisão nos Tempos da Agricultura

O sector da agropecuária estava bem vivo no Portugal dos anos 80, pois as tentativas de uma verdadeira reforma agrária deram grande incentivo a pequenos e médios agricultores e à proliferação de cooperativas em quase tudo o que fosse concelho rural.

A RTP andava atenta a este fenómeno, que se acreditava (e muito bem!) estar na base da economia de um país. Prova disso era o fantástico programa TV Rural, aos Domingos de manhã, apresentado pelo Eng. Sousa Veloso.

Este homem era o suprasumo da simpatia, da cordialidade e da afabilidade. Tratava com o mesmo carinho e dedicação o produtor de tomates do Ribatejo ou o pastor de Ovelhas da Golegâ. Afagava com tanta ternura uma vaca leiteira da Serra de Arga ou uma laranja de Silves. Toda essa reverência pelo produto nacional era parte de uma cultura transversal que começava nas Escolas Primárias, onde se estudava tudo o que era produzido em cada região do país, e acabava nas bancas das mercearias, onde os produtos ali estavam expostos sem a esmagante concorrência da fruta magrebina ou espanhola...

O Eng. Sousa Veloso era um amante das feiras de gado e de toda e qualquer actividade que mostrasse o produto das terras. Andava radiante, entrevistando criadores, gabando as reses, apalpando a fruta, imune ao cheiro das pocilgas e ao pó da terra batida.

Como eram aliciantes esses tempos de esperança... e que imagem dava o programa do sector produtivo em Portugal...Claro que tudo foi acabando com a entrada na CEE... hoje a nossa atrofiada agricultura é uma fonte de subsídios, as pescas são projecteis eleitoralistas na altura das eleições europeias e quase tudo o que comemos vem doutro país. Mais uma vez, os poucos poderosos ganharam sobre os muitos oprimidos... os latifundiários mantiveram direito a terras que não usam, os senhores da europa financeira ganharam-nos os mares e o gado e o leite e as moscas e a dignidade do agricultor...

E a ignorância triunfou, da triste forma que hoje já quase nem sabemos transformar uma espada num arado ou numa caneta. Abril bem tentou, mas falhou... (e um dos verdugos do falhanço anda a farejar uma cadeira que já ocupou!).

Resta-nos a memória do Eng. Sousa Veloso e do seu amor à terra.

E assim me despeço, com amizade...

Outro Trio Fantástico

Como tinha acabado o meu post a falar do Eng. Sousa Veloso, resolvi voltar ao assunto para recordar os tempos da "boa" televisão em Portugal, e principalmente, da sua essência, que eram as pessoas que a compunham. Dessas, guardo grata recordação de três comunicadores, extremamente diferentes entre si e que marcaram uma época. A saber, o já referido Sousa Veloso, simpático e cordial apresentador do TV Rural, o grande guru da animação Vasco Granja e o anda activo José Hermano Saraiva.
Se o primeiro granjeava a simpatia de todos os que o viam, os outros dois constituem, não raras vezes, alvos de polémica, especialmente pelas suas ligações políticas ou ideológicas. Nos próximos posts, vamos desmontar essa polémica e observar como eram figuras tão especiais da nossa comunicação social.
E espero obter muitos comentários, dado que estou a pagar à hora para escrever nas férias! Se isto não é amor à camisola, o que é então?

segunda-feira, agosto 08, 2005

E-insultos@mail.qualquercoisa.ru


Porra! Não consigo abrir a minha conta de e-mail do Gmail sem lá ter sempre pelo menos 2 ou 3 mensagens de spam!

E o mais aborrecido nem é ter sempre de apagar aquela m*rd@, mas sim ter de aturar as mensagens promocionais de Cialis e Viagra!

Isto de ter a virilidade atacada via e-mail é muito irritante! Só por causa disso vou ter de navegar pelo menos por 10 sites de gajas nuas, só para manter a reputação...

O Rancho Folclórico

De férias num sítio ainda quase rural, não é estranho, de tempos a tempos, assistir a um espectáculo de rancho folclórico. O que, sinceramente, me agrada, visto ser apologista de registos que nos lembrem o passado, se bem que não muito distante, em que o país rural (a Província) vivia à sombra da Metrópole, asfixiada num marasmo de ignorância e do seu aproveitamento político e social. Mas tem mais: é bonito ver a simplicidade dos trajes dos trabalhadores, das suas alfaias, em contraste com o ouro e a opulência dos mais abastados; fascinam-me, também, as actividades da altura, as circunstâncias em que se dançava, as letras das músicas reflectindo as preocupações de há pouco menos de um século atrás, os romances, namoros e namoricos, o controlo das mães, sempre zelosas, a alimentação; e a música, sempre acústica e tradicional, sempre excelente... todo um mundo que parece caído no esquecimento do qual o folclore parece querer dar o último grito de alerta.
Aliás, a palavra folclore é corruptela do inglês Folk (povo) + Lore (sabedoria), o que já explica muita coisa. A sabedoria do povo é a sabedoria do ritual quotidiano, transformado em actividades que servem para poupar energia essencial ao trabalho, e converter as ideias simples e a música em lazer, talvez o único disponível então, numa altura em que não havia sequer telefonia.
No entanto, preocupa-me a ideia de que algumas circunstâncias daqueles tempos sombrios tenham chegado incólumes ao presente.
A ignorância que é transversal na nossa realidade contemporânea, parece-me ser o fio condutor entre o passado e o presente. Apesar de quase cem anos passados desde a altura-tipo dos registos etnográficos a que podemos assistir, vivemos ainda num País toldado e inerte.
Os ranchos folclóricos, assim como todas as outras manifestações de etnografia, são cultura e merecem lugar de destaque. Merecem, também, ser compreendidos como algo mais que um registo, assumindo uma forma de consciência profunda daquilo que foi o nosso passado e as nossas raízes populares.
Só o esbatimento da ignorância do presente fará compreender a ignorância do passado e as suas causas. O problema é que a ignorância pretérita influencia, ainda, em larga escala, a nossa cultura.
Ainda não recuperámos de 40 anos de escuridão...
E que dizer de Barrancos e dos seus touros de morte? Assim como de toda a tauromaquia, que não é mais que um espectéculo de sofrimento de um animal, possante mas idefeso perante o engenho do homem. Aqui, este registo de tradição, ao contrário do folclore, já não me merece admiração nem respeito. Acho a tourada muito linda sim senhor, mas para ser confinada a um museu. Tanto pelo sofrimento do animal, como pela passagem do tempo ter mantido uma tradição assente em valores especistas e em comportamentos elitistas.
Mas isto é assunto para outro post...
Por agora, gostaria de dedicar este texto ao Rancho Folclórico de Portomar, na figura de Luísa Cupido, actualmente em digressão pelos Açores (volta rápido), com um grande abraço.
Prometo que para o próximo post, vou abandonar a influência do Eng. Sousa Veloso (que saudades dos Domingos de manhã) e vou voltar à carga pura e dura.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Fruto de época

É verdade, meu(s) amigo(s)! (ler de uma ou outra maneira, consoante se acredite que só um tipo lê isto ou se acredite que por acaso do destino chegou mesmo a haver dois gajos que por aqui passaram!)

Este nosso blog é mais activo em determinadas épocas. Nesta altura do ano, as temperaturas convidam a outras actividades que não o posting... O calor causa uma letargia enorme nas partes criativas do cérebro, levando o nosso corpo a desviar as suas energias para... outras paragens! Assim sendo a nossa atenção vira-se para a actividade física e o consumo da fruta da época, que surge quanto os tempos começam a escaldar... Umas meloas (ou mesmo melões!), umas perinhas e outros frutos carnudos e suculentos... Assim funciona o nosso instinto, digamos, de preservação da espécie, e este vosso correspondente, como simples mortal que é, sofre dos mesmos efeitos... Por isso arredo-me do computador e desloco-me a paragens mais frescas!

Umas boas férias para vós...