domingo, junho 22, 2008

Mudar de Vida

O jornal popular Mudar de Vida já vai na sua 8ª edição.

Do site do jornal:

"Acerca do MV

capa0a.jpg MUDAR DE VIDA é um jornal político popular que se edita em dois suportes: internet e papel. Um primeiro número experimental, em papel, foi amplamente divulgado no 25 de Abril e no 1.º de Maio de 2007; e, em 30 de Maio, foi distribuído um suplemento dedicado à greve geral. A edição de papel sai com regularidade mensal a partir da primeira semana de Outubro de 2007. Os nossos propósitos estão expressos no estatuto editorial que a seguir se publica. Sem suportes financeiros, sem estrutura partidária que o apoie, MUDAR DE VIDA depende inteiramente, desde a nascença, do acolhimento que encontrar. A todos fazemos um apelo. Enviem-nos críticas e sugestões. Se se sentirem cativados, colaborem na divulgação junto de colegas, amigos, vizinhos. E se acharem que este projecto vale a pena, façam uma assinatura.

Equipa


Redacção: Cristina Meneses, João Bernardo, José Mário Branco, Manuel Raposo, M. Gouveia, Pedro Goulart Colaboradores: António Louçã, Cândido Guedes, Carlos Simões, Eugénio Silva, Rita Moura, Manuel Monteiro, Renato Teixeira, Rui Pereira, Urbano de Campos Cartune: Manuel da Palma Site: David Raposo"

E quem quiser a última edição em pdf, aqui está ela.

sexta-feira, junho 20, 2008

Queres marcar golos ao Ricardo?

Então estuda muito, para seres alguém na vida. Estuda o golo da Grécia na final de 2004. Estuda os dois ontem da Alemanha, tudo igual. Tudo.

A defesa tem destas coisas. Aqueles cruzamentos, dizem os laterais e os centrais, pertencem mais aos guarda-redes. Atacante que fuja da marcação, ou entra em fora-de-jogo ou, caso contrário, e num cruzamento, se o defesa não interceptar, cabe ao guarda-redes sair ao cruzamento.

Ricardo saiu, sim senhor. Caricato, no golo de Ballack, punhos cerrados como habitualmente, aqueles braços ridiculamente esticados e o corpo absurdamente hirto mergulhando para baixo.

Essa deselegância dos punhos fechados e dos braços hirtos, até a aceitava bem se funcionasse. Mas, caramba! Quantas vezes a defesa passou por calafrios cada vez que a bola era socada para a frente e para baixo, ou seja, em direcção aos pés dos avançados contrários?

Mas não vejo ninguém a apontar dedos ao senhor Ricardo.

E se em vez do Ricardo fosse outro qualquer a fazer os mesmissimos erros? Tinha a Cruz à espera!

Ricardo goza de um estatuto que eu não compreendo no futebol português em âmbito de selecção.

Porque no campeonato doméstico, toda a gente sabia o que ele valia. Em Espanha, toda a gente sabe o que ele vale, e por isso não é titular.

Ricardo surge em número um na baliza da Selecção por questões única e exclusivamente políticas.

Scolari é teimoso para umas coisas, mas nunca o é para quem lhe dá o dinheiro a ganhar.

Baía foi, em 2004, considerado o melhor guarda-redes da Europa. A final da Liga dos Campeões contra o Mónaco começou a ser ganha, por exemplo, com uma saída de Baía fora da grande-área, desarmando com os pés o atacante monegasco. Não é qualquer guarda-redes que tem sangue frio para uma coisa destas. Baía saía elegantemente a qualquer cruzamento, impondo a sua graciosidade, a sua força, a sua capacidade de elevação, a sua raça. Baía continua a ser o jogador de futebol de toda a história do futebol com mais títulos ganhos. Cada ano que jogou, ganhou sempre alguma coisa.

Scolari podia teimar contra a FPF, em 2004, para chamar o Baía à Selecção. Mas preferiu teimar contra a realidade e apoiar a FPF nos seus intuitos de se vingar do jogador por este ter sido testemunha abonatória de alguém com contencioso com a FPF num processo judicial. Decisões políticas.

Scolari foi teimoso ao contrário, porque o verdinho é muito bom. Venha a nós.

Scolari continuou a teimar por esses anos fora. Deixando, por exemplo, Maniche este ano em casa. O resultado foi o que se viu: equipa sem Deco e sem Ronaldo não funciona, não há ninguém que transporte a bola no meio campo, com força ou táctica. Achou que era com Moutinhos que lá ia... Sinceramente, até acho que o JVP, embora a acenar aos 40, até teria sido uma melhor escolha táctica.

Scolari foi teimoso ao negar coisas que absurdamente toda a gente viu. Agressões a jogadores, má educação, falta de carácter.

Foi teimoso a defender os "mininos" da imprensa. Não foi teimoso em manter a sua posição limpa no que toca aos seus próprios contratos. Tal como Ricardo, Scolari goza de um estatuto incompreensível na Selecção, apesar de toda a gente saber que tudo o que ele faz, desde vociferar o hino, beijar a bandeira, defender os "mininos", foi única e exclusivamente por dinheiro.

Desculpem o desabafo. Não escrevi isto por estar aborrecido com o afastamento da Selecção. Para mim esse facto foi-me indiferente, como o é desde que saiu a convocatória para o Euro 2004. Escrevi porque achei que era a altura certa, a altura em que a Selecção pode voltar a ser a de todos nós. (Tenho as minhas dúvidas, mas guardo uma pequena esperança).


domingo, junho 08, 2008

Estamos vivos!

Há pessoas que lêem o nosso blog. Ontem tivemos um comentário a um post de Fevereiro de 2005.

quarta-feira, junho 04, 2008

Não por decreto!

"Palavras cria-as o tempo e o tempo as mata..."

José Cardoso Pires, in "O Delfim"

A perversão básica do novo acordo ortográfico está no facto de que é a maneira como se fala que condicionará a maneira como se escreve. Assim tem sido ao longo de todo o desenvolvimento das línguas e dialectos. Os portugueses pariram o português da mistura do latim com o suevo e com o árabe e sabe-se lá que mais palreares que por aqui pulularam em tempos idos. Passámos a escrever em português porque o latim, morto e enterrado, começava a ser língua snob a tresandar a sacristia.

O português soube mudar por si só, vivo e arisco, somando-se de novos vocábulos, mudando as letras ao sabor do marear da fala. Perdemos pê-agás de pharmácia depois de termos desusado a botica. Reinventámo-nos nos irrealismos de África quando os ritmados irmãos dançaram com as nossas línguas e nos deram novos mundos, que abalaram para o Brasil e aí fundaram a nação das nações do português.

Mas nós aqui vivemos no rectângulo do Eça. Do Pessoa e do Camões. Do Ary, do Eugénio, do Saramago. Nós aqui mudamos a nossa própria língua quando ano após ano, uma nova palavra, nova maneira de escrever, começa a pular de boca em boca, de folha em folha, de teclado em teclado, saindo para o meio da rua como o povo em vésperas de São João.

Temo, com um temor de expatriado, que ao ser decretada uma nova e estranha língua, seja ela a ditar como nós falaremos ao invés de sermos nós a deixar que ela mude.

Não hei-de escrever as minhas caras ou baratas palavras de forma diversa do que faço agora, se isso me for imposto por decreto. A minha pátria é a Língua Portuguesa, e dela não abdico por uma ditadura de ímpios e estranhos contornos economicistas.

Venham acordos e decretos, que cá estarei de facto. Venham novos correctores ortográficos subverter os computadores, que penas, lápis, aparas, o botão direito do rato e a opção "ignorar" cá estarão para lhes fazer frente. Comigo, o novo acordo não passará.

Mudarei o que falo e o que escrevo quando a Língua, viva e livre, assim o decidir, e nunca deixarei que ela parta agrilhoada num navio negreiro para o Brasil.