quinta-feira, janeiro 19, 2006

Em quem vou votar

Todos sabem como nós, aqui no Chapéu, ficamos excitados na altura das eleições. Talvez porque somos pessoas com consciência política e que valorizamos a democracia, encontrando no acto eleitoral a forma mais directa de viver essa democracia. De escolher, dentro das limitações da democracia, as pessoas com quem mais nos identificamos ideologicamente e que acreditamos serem capazes de defender as nossas ideias.
Mais uma vez nos encontramos próximos de um acto eleitoral e já foi aqui traçado o “perfil” dos candidatos.
Creio que todas as candidaturas foram actos limitados e redutores de compromisso político, marcado por uma conjuntura circunstancial de falta de estratégia a longo prazo e, nalguns casos, por interesses obscuros de facções tecnocratas/economicistas da nossa sociedade. Neste caso, falo de Cavaco Silva. Noutros casos, da esquerda pluralista mas fragmentada.
Sempre desprezei, em democracia, a escolha de um mal menor ou o recurso ao voto útil. São vícios do sistema que devem ser previstos e evitados a bem do eleitorado. Mas quando se configura este cenário eleitoral, donde o Chefe de Estado será, de certeza, um homem, e com uma idade mais ou menos avançada e ideias limitadas a um certo plano – à direita falta consciência social e à esquerda, inteligência económica capaz de travar o capitalismo galopante – resta-nos escolher, também a nós com compromissos e limitações, o futuro Presidente. Que seja o melhor, pois “o fraco Rei faz fraca a forte gente”.
Dentro desta conjectura, vou aqui apresentar, então, a minha opinião e o meu apelo.
Não quero ver Cavaco em Belém. Ele não seria o Presidente de todos os Portugueses. Aqueles que apanharam as bastonadas nos protestos da ponte, da PSP, dos estudantes, dos trabalhadores da Marinha Grande, lá estão para o testemunhar. E também aqueles que foram censurados, amordaçados, que viram os seus livros e os seus filmes retirados do concurso a prémios de cultura, que viram as verbas desviadas para fora dos teatros, que viram programas de televisão retirados do ar.
Também não quero Soares. Escolhe-lo é fechar os olhos ao seu carácter bonacheirão e às suas estranhas amizades: Savimbi, Mobutu, a máfia da CIA – Carlucci, Kissinger. Soares é desonesto, ao apregoar os valores da Revolução Francesa ao mesmo tempo que apoiou os maiores facínoras africanos e americanos, que tanto terror causou aos desvalidos de África e da América do Sul.
Soares custa ao Estado muitos milhares de euros por mês, em reformas (mandatos presidenciais, mandatos na AR, Governo, etc...), segurança privada da PSP, uma Fundação absurda...
Jerónimo é popularíssimo e angaria multidões... mas é uma espécie de Lula português, com a agravante do seu discurso ter passado de coerente a repetitivo. E não tem hipóteses.
Louçã seria um excelente PR. Tem qualidades fantásticas, entre as quais a conciliação de um grande conhecimento económico com a consciência social. Incorpora a ideia de progresso e desenvolvimento como ninguém; é defensor das minorias (essencial num PR); é relativamente jovem, o que seria óptimo em termos de imagem internacional, mas... seria um elemento de enorme instabilidade política se eleito. E não tem hipóteses.
Tenho que falar de Garcia Pereira, senão, corro o risco dele me processar junto da CNE.
Ora, o brilhante advogado já teria sido Primeiro-ministro se tivesse ido para o PS ou PPD. Que fica ele a dever ao Durão, que, recorde-se, saiu do MRPP! Garcia Pereira é, de facto, acutilante e soberbamente genial – a entrevista na RTP a Judite de Sousa está lá para o comprovar. Mas... a única prova da sua falta crónica de inteligência é ter permanecido indefectivelmente maoista todos estes anos. E não tem hipóteses.
Para mim, de um ponto de vista estratégico, o mal menor é votar em Manuel Alegre. Perfil não lhe falta, e tem a vantagem de ter uma candidatura supra-partidária, que, aliás, constituiu um acto de grande coragem e abnegação. É culto, bem-falante e poeta.
Embora não admire o seu percurso político, sempre demasiado apegado ao soarismo, tarde se libertou – e mais vale tarde que nunca! – e se assumiu em franca e aberta oposição.
É um camaleónico de esquerda, com laivos de republicano daqueles antigos e ideias algo socialistas, apesar disso quase nunca se ter reflectido nos seus actos legislativos como deputado na AR – quase nunca se revelou contra a corrente de voto do PS.
É, principalmente, um patriota verdadeiro, da única pátria que eu também reconheço – a Língua Portuguesa.
Alegre é o melhor candidato elegível. Como tal, conta com o meu voto.

5 comentários:

Anónimo disse...

Fantástico, estou extasiado com o seu post. Fiquei também a saber que Manuel Alegre vai ser o próximo Presidente... da Lingua Portuguesa. Vamos voltar ao velho Império??
Cavaco e Soares fizeram coisas mal feitas mas também coisas bem feitas, mas Alegre o que fez??
Criticar os feitos de Alegre, Jerónimo e Louçã é impossível, não por serem pessoas que nunca erraram mas sim porque nunca mostraram nada, nunca tiveram que decidir nada relevante para a vida da MINHA pátria.
Falar é muito fácil, agir nem todos conseguem. Derrubar e mal-dizer é simples, o problema está no depois do "bota abaixo", na capacidade de comando.
Reconheço que Cavaco é um tecnocrata e pouco perfil tem para PR, mas, por favor, olhando para os outros...

Por um Mundo melhor

Rui Valdiviesso disse...

Caro leitor: deixou mais uma vez claro hoje em que se baseia a sua ideia de um "mundo melhor". Obrigado pelo esclarecimento.

Anónimo disse...

Espero que não tenha escrito estas linhas com tons sarcásticos...
Lamento ter dado a minha opinião, se fosse igual à sua talvez a sua resposta fosse diferente.
Lamento que tenha percebido erradamente a minha ideia de um mundo melhor...

Por um Mundo melhor.

Rui Valdiviesso disse...

Vejam os links acima. Vale a pena. E vejam com atenção o vídeo. Para quem tem memória curta, pode-se lembrar do que se passou há mais de 10 anos atrás.
Aquelas foram as decisões tomadas pelos governantes. Decidiram usar a força com o povo descontente.
E votem.

Anónimo disse...

Como é possivel alguem não admitir novas pessoas, novas ideias no nosso governo?Só alguém que esteja satisfeito com o estado actual do noso país é que pode dizer isso.Talvez esteja a retirar dividendos de um tacho qualquer ou faça parte do corpo de intervenção(aqueles que estão sempre à espera de cascar em alguém)
Pela esperança de um munndo realmente melhor