É público: os Aliados estão transformados num aterro, numa pedreira de granito, onde os velhos jardins ladeados a calçada não são mais que uma recordação. No seu lugar, dezenas de metros de pedra atrás de pedra, num irritante desenho semicircular, que no conjunto com os Leões, a Praça D. João I, a Batalha e os Poveiros, fazem lembrar as cidades da Cortina de Ferro, onde os velhos patriarcas estalinistas faziam perfilar o seu brando povo e o seu vermelho exército. Honrosa excepção feita à Praça Carlos Alberto (talvez o nome do Monarca tenha inspirado alguma harmonia), o Porto foi perdendo a sua memória visual.
Não quero com isto ser conservador: a mudança era e continua a ser necessária! Mas, contudo, paredem carecer de imaginação os arquitectos que planearam semelhante cinzentismo, fazendo repetidamente a mesma coisa com o mesmo material.
Em termos técnicos, faltou também alguma perícia aos "pedreiros" que assentaram lages sobre areia, por onde enormes autocarros escavam em fragmentos as artérias movimentadas desta urbe. Resultado: além de feio, degrada-se rapidamente.
Já que falamos em técnica, houve ainda a estupidez de não se ter aproveitado o esburacamento quimérico que a cidade sobreu, para a munir de uma verdadeira rede de túneis polivalentes, onde fosse fácil fazer a manutenção das condutas de água, esgotos, gás, e dos cabos de electricidade e comunicações. Como as coisas estão, sempre que é preciso mudar alguma coisa, reinará o protocolo da redestruição e da reconstrução, com óbvios benefícios para os intermediários dos meandros burocráticos e financeiros das obras públicas.
Enquanto todos estes "melhoramentos" decorrem, o Porto vai perdendo capacidades de fixar população jovem, e o seu suburbio vai proliferando de gente que dificilmente terá as grandes opurtunidades de liberdade e cultura que uma grande cidade tem para oferecer.