"Apesar dos seus 70 anos, Jack Welch é um notável comunicador. O ex-CEO da General Electric veio a Portugal para criticar o pessimismo dos portugueses e a constante degradação da imagem nacional no estrangeiro."
"Aquele que foi considerado o gestor do século XX pela revista ‘Fortune’, reuniu-se posteriormente com um conjunto de empresários portugueses e afirmou que “Portugal é visto no estrangeiro como um país em contínua degradação e declínio ao longo dos últimos anos”.
Correio da Manhã - 2006-05-27
"O norte-americano Jack Welch, antigo presidente-executivo da General Electric e reconhecido como o melhor gestor do séc. XX, entende que é «humilhante» a forma como Portugal é visto no estrangeiro."
"«Se compararmos o crescimento com o dos países da Europa do Leste, com a Irlanda ou Espanha , eu ficaria embaraçado com o desempenho económico português», afirmou."
TSF Online - 2006-05-26
Caro Sr. Welch, com respeito à sua já avançada idade vou-lhe poupar uns impropérios à bom português do Norte. De facto quando voltou aos aos seus queridos EUA, deve ter dito que de facto os portugueses são um país de atrasados - ora não é que lhe pagam para vir encher a mula e passear e ainda os insulta em casa deles? Fique pois sabendo que Portugal, e antes de se chamar Portugal, já está habituado a degradações e declínios, de senhores paternalistas, com ar bonacheirão como o senhor Welch. O facto é que nos por cá nos vamos aguentando. Veja-se, primeiro foi o convívio dos autóctones da península com a cultura de La Téne, os Celtas. Depois com Fenícios e com os Gregos. Depois com os Cartagineses e com os Romanos. Os Romanos ainda se aguentaram uma porrada de séculos, e do tão bem que fizeram alguns (Avé Quintus Sertorius!) outros devem estar ainda a pagar o sangue que fizeram jorrar (Servius Sulpicius Galba). O quê Sr. Welch? Estou a falar e coisas que aconteceram à muito? Deixe-me terminar por favor! Ora com a decadênvia inevitável de todos os impérios (leia-se bem) vieram as hordas semi-bárbaras de para além do Reno, cheios de fome de comida e das riquezas. Deram os Godos a machadada final no Império do Oeste em Adrianopla em 378 depois de Cristo, onde o próprio Imperador Valens pagou com a vida o desleixo e o deboche a que aqueles Romanos tardios se tinham acomodado. Já não eram os bravos povos do meio-dia, que levavam a cultura aos bárbaros, herdeiros da luz da Grécia. Os Visigodos, Alanos, Suevos e Vândalos dividiram entre si a Peninsula Ibérica, mas em 429 já só eram eles e os Suevos, no que é hoje o Norte de Portugal e a Galiza. Em 448 o rei Requila morre, deixando a coroa ao seu filho Requiário que se havia convertido ao catolicismo em 447. Havia ainda de ser o arianismo pagão fé oficial outra vez antes de o povo Suevo ser formalmente católico. Em 456 Requiário é derrotado e morre, pela mão de Teodorico II, rei dos Visigodos. Ainda assim os Suevos mantiveram a independência até 585, quando Andeca, o último rei, foi destronado por Leovigildo. O reino Visigodo por si só sobreviveu até 711, quando o último rei, Rodrigo, foi derrotado pelos Muçulmanos na batalha do Guadalete. Tal como Romanos antes de si, também os Visigodos, habituados já a uma vida sem guerras, haviam-se entregado a uma existência ébria, que em nada excitava o seu sangue guerreiro de outrora. Frente aos alfanges dos bravos bérberes de África, armados em cavalaria ligeira (qual antiga Númida!) os franquisques, as lanças e as formações rígidas de nada valeram. Vieram os muçulmanos como foice em campo de trigo atravessando as Colunas de Hércules. Só ficou no Norte, uma região livre liderada por um nobre Visigodo: Pelágio em Covandonga. Daí partiu o movimento conhecido como Reconquista. Em 868, o Conde Vímara Peres reconquista e governa uma região entre os rios Douro e Minho, chamada o condado de Portucale. Nessa altura crescem na Península outros reinos, fruto das antigas divisões Visigodas e das novos avanços na guerra contra o invasor africano. Em 1086 alistam-se a Afonso VI de Leão e Castela príncipes francos. Entre eles o Conde D. Henrique da Borgonha, fundador da futura monarquia portuguesa e pai de D. Afonso Henriques. Este proclama a independência do condado enquanto lavra uma guerra civil entre Leão e Castela. Portugal nasce formalmente (como lê, Sr. Welch, apenas formalmente!) a 24 de Junho de 1128, após a Batalha de S. Mamede. D. Afonso intitula-se primeiro Príncipe e depois em 1139, Rei. A Santa Sé reconhece o "novo" estado independente mas apenas o valida em 1179. Enquanto as conquistas avançam para o Sul, o território vai-se consolidando. A crise de sucessão com a morte de D. Fernando, entre 1383 e 85 é debelada com a vitória de Aljubarrota frente aos Castelhanos. É o início da Dinastia de Aviz. Vira-se então Portugal para o Mar. Desta época já sabe o Sr. Welch tudo: descobertas, expansão económica, multiculturalismo, etc. No século XVI começa o declínio da expansão - entre 1580 e 1640 Portugal é dominado pela Coroa Espanhola. Em 1738 inicia-se a época do Marquês de Pombal, que termina em 79. Em 1789 vem a Revolução Francesa. A subida ao trono de Napoleão em 1804. Em 1807 Portugal recusa-se a aceitar o Sistema Continental de embargo ao Reino Unido. O General Junot à frente do indubitavelmete melhor exército do mundo na altura tenta deitar a mão à família real mas esta foge para o Brasil. Após esta seguem-se mais duas invasões que são sustidas a custo, mas com bravura, pelos Aliados Ingleses, Espanhois e Portugueses. O Brasil declara-se independente em 1822 - após isso as guerras liberais opõem os liberais de D. Pedro, aos realistas de D. Miguel. Em Outubro de 1910 surge a República. Em 1926 surge a 2ª República, também conhecida como Estado Novo. Em 1974 o 25 de Abril e o início da 3ª República. Após isso é Cavaquismo e Guterrismo.
Já nem sei bem que lhe queria dizer Sr. Welch. Mas é assim que somos. A sua pátria de 200 anos se calhar devia aprender com alguns dos erros que cometemos (e fomos forçados a cometer!) durante estas eras.
"Aquele que foi considerado o gestor do século XX pela revista ‘Fortune’, reuniu-se posteriormente com um conjunto de empresários portugueses e afirmou que “Portugal é visto no estrangeiro como um país em contínua degradação e declínio ao longo dos últimos anos”.
Correio da Manhã - 2006-05-27
"O norte-americano Jack Welch, antigo presidente-executivo da General Electric e reconhecido como o melhor gestor do séc. XX, entende que é «humilhante» a forma como Portugal é visto no estrangeiro."
"«Se compararmos o crescimento com o dos países da Europa do Leste, com a Irlanda ou Espanha , eu ficaria embaraçado com o desempenho económico português», afirmou."
TSF Online - 2006-05-26
Caro Sr. Welch, com respeito à sua já avançada idade vou-lhe poupar uns impropérios à bom português do Norte. De facto quando voltou aos aos seus queridos EUA, deve ter dito que de facto os portugueses são um país de atrasados - ora não é que lhe pagam para vir encher a mula e passear e ainda os insulta em casa deles? Fique pois sabendo que Portugal, e antes de se chamar Portugal, já está habituado a degradações e declínios, de senhores paternalistas, com ar bonacheirão como o senhor Welch. O facto é que nos por cá nos vamos aguentando. Veja-se, primeiro foi o convívio dos autóctones da península com a cultura de La Téne, os Celtas. Depois com Fenícios e com os Gregos. Depois com os Cartagineses e com os Romanos. Os Romanos ainda se aguentaram uma porrada de séculos, e do tão bem que fizeram alguns (Avé Quintus Sertorius!) outros devem estar ainda a pagar o sangue que fizeram jorrar (Servius Sulpicius Galba). O quê Sr. Welch? Estou a falar e coisas que aconteceram à muito? Deixe-me terminar por favor! Ora com a decadênvia inevitável de todos os impérios (leia-se bem) vieram as hordas semi-bárbaras de para além do Reno, cheios de fome de comida e das riquezas. Deram os Godos a machadada final no Império do Oeste em Adrianopla em 378 depois de Cristo, onde o próprio Imperador Valens pagou com a vida o desleixo e o deboche a que aqueles Romanos tardios se tinham acomodado. Já não eram os bravos povos do meio-dia, que levavam a cultura aos bárbaros, herdeiros da luz da Grécia. Os Visigodos, Alanos, Suevos e Vândalos dividiram entre si a Peninsula Ibérica, mas em 429 já só eram eles e os Suevos, no que é hoje o Norte de Portugal e a Galiza. Em 448 o rei Requila morre, deixando a coroa ao seu filho Requiário que se havia convertido ao catolicismo em 447. Havia ainda de ser o arianismo pagão fé oficial outra vez antes de o povo Suevo ser formalmente católico. Em 456 Requiário é derrotado e morre, pela mão de Teodorico II, rei dos Visigodos. Ainda assim os Suevos mantiveram a independência até 585, quando Andeca, o último rei, foi destronado por Leovigildo. O reino Visigodo por si só sobreviveu até 711, quando o último rei, Rodrigo, foi derrotado pelos Muçulmanos na batalha do Guadalete. Tal como Romanos antes de si, também os Visigodos, habituados já a uma vida sem guerras, haviam-se entregado a uma existência ébria, que em nada excitava o seu sangue guerreiro de outrora. Frente aos alfanges dos bravos bérberes de África, armados em cavalaria ligeira (qual antiga Númida!) os franquisques, as lanças e as formações rígidas de nada valeram. Vieram os muçulmanos como foice em campo de trigo atravessando as Colunas de Hércules. Só ficou no Norte, uma região livre liderada por um nobre Visigodo: Pelágio em Covandonga. Daí partiu o movimento conhecido como Reconquista. Em 868, o Conde Vímara Peres reconquista e governa uma região entre os rios Douro e Minho, chamada o condado de Portucale. Nessa altura crescem na Península outros reinos, fruto das antigas divisões Visigodas e das novos avanços na guerra contra o invasor africano. Em 1086 alistam-se a Afonso VI de Leão e Castela príncipes francos. Entre eles o Conde D. Henrique da Borgonha, fundador da futura monarquia portuguesa e pai de D. Afonso Henriques. Este proclama a independência do condado enquanto lavra uma guerra civil entre Leão e Castela. Portugal nasce formalmente (como lê, Sr. Welch, apenas formalmente!) a 24 de Junho de 1128, após a Batalha de S. Mamede. D. Afonso intitula-se primeiro Príncipe e depois em 1139, Rei. A Santa Sé reconhece o "novo" estado independente mas apenas o valida em 1179. Enquanto as conquistas avançam para o Sul, o território vai-se consolidando. A crise de sucessão com a morte de D. Fernando, entre 1383 e 85 é debelada com a vitória de Aljubarrota frente aos Castelhanos. É o início da Dinastia de Aviz. Vira-se então Portugal para o Mar. Desta época já sabe o Sr. Welch tudo: descobertas, expansão económica, multiculturalismo, etc. No século XVI começa o declínio da expansão - entre 1580 e 1640 Portugal é dominado pela Coroa Espanhola. Em 1738 inicia-se a época do Marquês de Pombal, que termina em 79. Em 1789 vem a Revolução Francesa. A subida ao trono de Napoleão em 1804. Em 1807 Portugal recusa-se a aceitar o Sistema Continental de embargo ao Reino Unido. O General Junot à frente do indubitavelmete melhor exército do mundo na altura tenta deitar a mão à família real mas esta foge para o Brasil. Após esta seguem-se mais duas invasões que são sustidas a custo, mas com bravura, pelos Aliados Ingleses, Espanhois e Portugueses. O Brasil declara-se independente em 1822 - após isso as guerras liberais opõem os liberais de D. Pedro, aos realistas de D. Miguel. Em Outubro de 1910 surge a República. Em 1926 surge a 2ª República, também conhecida como Estado Novo. Em 1974 o 25 de Abril e o início da 3ª República. Após isso é Cavaquismo e Guterrismo.
Já nem sei bem que lhe queria dizer Sr. Welch. Mas é assim que somos. A sua pátria de 200 anos se calhar devia aprender com alguns dos erros que cometemos (e fomos forçados a cometer!) durante estas eras.