Neste momento, sou assaltado por tantos pensamentos sobre a Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana, que nem sei se me atreva a escreve-los, sob pena de ser fulminado pelo Divino Raio. Mas o estóico padecimento e a sofrida morte do Santo Padre trazem esses mesmos pensamentos, alguns antiquíssimos, para a ordem do dia.
Ao segundo de Abril, pelas vinte e trinta, morreu Karol Vojtyla. Sabemos do óbito, porque o seu Cardeal Camareiro o confirmou, batendo-lhe com um martelo de ouro e chamando pelo seu nome de baptismo. Três vezes. Foi a conta que Deus fez.
O globo mediatizado é exacerbado pelas biografias papais, pelas relíquias do chefe da Igreja, pela vida do santo homem, do homem santo.
É assim que se constrói um mito. Só uma instituição poderosa o pode fazer, baseada em dogmas férreos, que reprimem, embestificam, agrilhoam o espírito crítico dos crentes, o seu verdadeiro espírito.
É neste sentido que a religião teme a ciência, fazendo uso desta – manipulando-a – para manter um homem vivo muito além das possibilidades do comum mortal, ridicularizando-a, depois, com um martelo de ouro.
A religião é dogmática. A ciência não conhece verdades absolutas.
Mais: se acreditares no Deus de Roma, o HIV abre-te as portas do Seu reino – desde que não desperdices o teu sémen.
Pergunto-me até que ponto o Santo Padre poderia ter evitado milhões de contágios pela simples acção de não se ter oposto ao uso de preservativo. Principalmente entre os fiéis católicos de culturas e sociedades que, por natureza, aceitam fácil e cegamente os dogmas e a autoridade religiosa – como os asiáticos, os africanos, os americanos do norte – e que, por sinal, são os que têm maior incidência de doentes com SIDA.
Mas, não obstante, a Igreja fez, simplesmente, o que costuma fazer: ignora a realidade de acordo com as suas conveniências, imbuída que está na densidade dos seus dogmas. Fecha os olhos à promiscuidade, como se ela não existisse, esquecendo algo tão importante como o princípio de reduzir riscos enquanto não há solução definitiva para um problema. Vontade de Deus.
Esta mesma Igreja que combateu, por via da sua doutrina, o Comunismo, fazendo de Estaline um monstro maior do que aquele de que facto foi e, por outro lado, fechando os olhos ao Holocausto nazi.
Se esta é a Igreja de Cristo, teria obrigação de fazer muito mais. Mas não fez. Por pura conveniência, compreenda-se. Caso contrário, nem o martelo de ouro teria escapado à fúria gananciosa de Mussolini durante o período da Segunda Grande Guerra.
Por acaso, ou talvez não, os regimes fascistas não entram em conflito com o catolicismo. Convém-lhes que não sejam questionados, tal como não se questiona Deus nem os seus ministros, desde o cardeal anafado de Roma até ao apopléctico padre da paróquia, que no sermão apela ao voto contra o aborto, contra o anticristo vermelho, contra a liberdade de pensarmos pela nossa própria cabeça.
Digo mais: a Igreja fecha os olhos à promiscuidade, pois ela própria é promíscua (esconjura-se), não entendendo o significado da palavra “laico”, tal como não o entendem os cidadãos ao serviço do Estado Republicano e Laico, que neste ocupam cargos oficiais. Caso contrário, não haveria padres a benzer nas inaugurações.
Para os crentes: há ainda lugar para a fé fora das paredes da Igreja. Ámen.
Ao segundo de Abril, pelas vinte e trinta, morreu Karol Vojtyla. Sabemos do óbito, porque o seu Cardeal Camareiro o confirmou, batendo-lhe com um martelo de ouro e chamando pelo seu nome de baptismo. Três vezes. Foi a conta que Deus fez.
O globo mediatizado é exacerbado pelas biografias papais, pelas relíquias do chefe da Igreja, pela vida do santo homem, do homem santo.
É assim que se constrói um mito. Só uma instituição poderosa o pode fazer, baseada em dogmas férreos, que reprimem, embestificam, agrilhoam o espírito crítico dos crentes, o seu verdadeiro espírito.
É neste sentido que a religião teme a ciência, fazendo uso desta – manipulando-a – para manter um homem vivo muito além das possibilidades do comum mortal, ridicularizando-a, depois, com um martelo de ouro.
A religião é dogmática. A ciência não conhece verdades absolutas.
Mais: se acreditares no Deus de Roma, o HIV abre-te as portas do Seu reino – desde que não desperdices o teu sémen.
Pergunto-me até que ponto o Santo Padre poderia ter evitado milhões de contágios pela simples acção de não se ter oposto ao uso de preservativo. Principalmente entre os fiéis católicos de culturas e sociedades que, por natureza, aceitam fácil e cegamente os dogmas e a autoridade religiosa – como os asiáticos, os africanos, os americanos do norte – e que, por sinal, são os que têm maior incidência de doentes com SIDA.
Mas, não obstante, a Igreja fez, simplesmente, o que costuma fazer: ignora a realidade de acordo com as suas conveniências, imbuída que está na densidade dos seus dogmas. Fecha os olhos à promiscuidade, como se ela não existisse, esquecendo algo tão importante como o princípio de reduzir riscos enquanto não há solução definitiva para um problema. Vontade de Deus.
Esta mesma Igreja que combateu, por via da sua doutrina, o Comunismo, fazendo de Estaline um monstro maior do que aquele de que facto foi e, por outro lado, fechando os olhos ao Holocausto nazi.
Se esta é a Igreja de Cristo, teria obrigação de fazer muito mais. Mas não fez. Por pura conveniência, compreenda-se. Caso contrário, nem o martelo de ouro teria escapado à fúria gananciosa de Mussolini durante o período da Segunda Grande Guerra.
Por acaso, ou talvez não, os regimes fascistas não entram em conflito com o catolicismo. Convém-lhes que não sejam questionados, tal como não se questiona Deus nem os seus ministros, desde o cardeal anafado de Roma até ao apopléctico padre da paróquia, que no sermão apela ao voto contra o aborto, contra o anticristo vermelho, contra a liberdade de pensarmos pela nossa própria cabeça.
Digo mais: a Igreja fecha os olhos à promiscuidade, pois ela própria é promíscua (esconjura-se), não entendendo o significado da palavra “laico”, tal como não o entendem os cidadãos ao serviço do Estado Republicano e Laico, que neste ocupam cargos oficiais. Caso contrário, não haveria padres a benzer nas inaugurações.
Para os crentes: há ainda lugar para a fé fora das paredes da Igreja. Ámen.
2 comentários:
Grande camarada!
Ausente por longos dias mas voltaste em grande... Dificilmente um outro texto poderia ser tão contundente (mas com muita classe!) em relação a este circo que temos assistido nestes últimos dias!
Muito bem...
"Pior cego é aquele que escolhe não ver..."
Excelente texto! Clap, clap, clap! E pleno de bom senso!
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