quinta-feira, outubro 06, 2005

Desconfiança

O sufrágio confere à sociedade, numa democracia, o seu maior poder, a forma mais directa de guiar os seus destinos institucionais.
A abstenção é o fracasso puro e simples da democracia.
Desiludida como anda a turba, a abstenção tornou-se numa forma de demonstrar a sua insatisfação com a instituição democrática e os seus processos.
Uma insatisfação injusta, mal orientada e de memória curta.
Quase incompreensível numa democracia tão jovem, mas contudo explicável à luz da miséria e da ignorância, dois fantasmas do fascismo, dos quais ainda não nos libertámos por completo.
Vou ser directo: a libertação assenta, principalmente, na negação de um sistema bipartidário, bipolar, que se instalou depois do Verão Quente de 75.
O P.S. e o P.P.D. aproveitaram a ingenuidade libertária de uma democracia florescente, e tomaram nas suas mãos ávidas de poder, um País que parecia ter renascido em Abril. As mentiras “socialista” e “social-democrata”, completamente difusas das linhas práticas que estes dois partidos seguiram, anularam, enfim, o pluralismo pretendido.
Mais: as duas forças partidárias criaram monstros locais, sem qualquer sentido de democracia ou liberdade, como os que agora se mostram, impunes, sob o manto da corrupção autárquica.
Assim, chegamos à altura das eleições com um nível de desconfiança popular assente na tal insatisfação injusta, mal orientada e de memória curta.

Injusta porque desconfia da democracia, não reconhecendo as suas alternativas.
Mal orientada porque aponta para a abstenção.
De memória curta porque esquece a ditadura fascista.

Como tal, o eleitor abstém-se pois já não concebe o poder do seu voto como ferramenta de moldagem da sociedade, sendo que apenas configura um modelo bipartidário.
Isto apenas continua a favorecer o P.S. e o P.P.D., na sua sequiosa ganância de repartir o poder.
Será que vale a pena não ir votar só porque estamos insatisfeitos e desconfiados?
Eu, pelo contrário, considero muito mais relevante o acto eleitoral nestas condições. Votar é um acto de consciência.
Nada irá mudar pelo aumento da abstenção.
Por isso, sugiro aos eleitores que me lêem, que votem em consciência, mas que escolham pessoas diferentes, partidos diferentes. Que abalem os fundamentos inconstitucionais deste execrável sistema bipartidário.

7 comentários:

Anónimo disse...

Terrific blog keep up the good work I will be back

I have a golf handicapsite. It pretty much covers golf related stuff.

I would love to see you there if you get time :-)

Rui Valdiviesso disse...

E ja está... também fui vitima do spam.

horned_dog disse...

Bravíssimo post!

Mas lamento o facto de não chegar à maioria dos eleitores. Se o mundo fosse um local a sério, mais gente lia este blog fantástico ;-)

Anónimo disse...

Caro Slinkman lamento informá-lo desta forma mas: "Vivemos num País de manipuladores, hipócritas, oportunistas e de pequenos ditadores".

Desculpem-me os defensores do dia da verruga, da revolução das verrugas, mas infelizmente para todos nós (defensores da liberdade) o 25 de Abril foi uma farsa. Uma revolução militar aproveitada por pequenos ditadores para também eles disfrutarem da cadeira do poder.

Agora posso dizer que estou desconfiado, desconfiado de toda a(des)classe política deste miserável País. Todos eles são iguais, todos querem ganhar, e quando ganham todos se vangloriam com as vitórias. De facto para perder ninguém entra neste mundo.

Portanto concordo consigo na parte da abstenção apesar da minha sugestão ser outra: VOTO EM BRANCO.

Por um Mundo melhor.

Anónimo disse...

Caro Slinkman lamento informá-lo desta forma mas: "Vivemos num País de manipuladores, hipócritas, oportunistas e de pequenos ditadores".

Desculpem-me os defensores do dia da verruga, da revolução das verrugas, mas infelizmente para todos nós (defensores da liberdade) o 25 de Abril foi uma farsa. Uma revolução militar aproveitada por pequenos ditadores para também eles disfrutarem da cadeira do poder.

Agora posso dizer que estou desconfiado, desconfiado de toda a(des)classe política deste miserável País. Todos eles são iguais, todos querem ganhar, e quando ganham todos se vangloriam com as vitórias. De facto para perder ninguém entra neste mundo.

Portanto concordo consigo na parte da abstenção apesar da minha sugestão ser outra: VOTO EM BRANCO.

Por um Mundo melhor.

Rui Valdiviesso disse...

TG98,
Entrar na crítica à revolução de Abril é encetar pelo campo "do que poderia ter sido se..."
Sabemos que houve mão dos americanos nos processos pós-revolucionários, donde o Sr. Kissinger e o seu amigo M. Soares (concerteza que o integra, e muito bem, no seu grupo de pequenos ditadores) têm intervenção directa.

Mas mais uma vez chamo a atenção para as eventuais alternativas à democracia que nasceu em Abril, e concentro-me na realidade do presente: sem democracia, não estariamos sequer aqui a opinar.

A revolução podia ter corrido melhor. Nasceu ferida de estratégia civil. Senão, vejamos: de todos aqueles que poderiam ter ocupado o cargo de Chefe de Estado Provisório, foi escolhido o pior possível: Spínola.
Mais valia o próprio Otelo ter avançado, ou até o Capitão Salgueiro Maia. Pelo menos, a bafienta aurea fascista não tinha permanecido na cadeira do poder.
Todos estes acontecimentos e mais alguns fizeram com que nos tornassemos ambivalentes na permeabilidade aos blocos de leste e ao grande capital. A Guerra Fria
encontrava em terras lusas uma nova mesinha para brincar ao braço-de-ferro.
Bem, no final de contas, foi o grande capital que empurrou de vez o braço socialista de encontro à dolorosa derrota de Vasco Gonçalves e de todos os outros bem intencionados socialistas verdadeiros, pervertendo o rumo da constituição e entregando toda a economia aos grandes capitalistas, que já tinham sido concedidos de umas boas férias no Brasil e para cá regressaram a reclamar o que achavam que era seu por direito de terem explorado até à feze o trabalho dos seus pobres vassalos.
Quem enriqueceu Belmiro, Champalimaud, Espírito-Santo e quejandos, foi o trabalho precário, foi a exploração.
Podemos ter perdido a opurtunidade de mudar tudo isto com o relativo "fracasso" do 25 de Abril. Mas não podemos abandonar agora a democracia. Pelo menos enquanto não nos atrevermos a explorar todas as suas possibilidades!

F.S. disse...

Abra as portas à revolução: Vote Vieira.