terça-feira, abril 25, 2006

A Memória de Abril


Todos os anos, ao lado do Museu Militar do Porto, sede da antiga PIDE-DGS, há uma concentração de velhos anti-fascistas que pretendem homenagear a memória do 25 de Abril de 1974, e lembrar às gerações mais novas como era a sua vida antes da revolução. São testemunhos, na primeira pessoa, de como eram encarcerados à mínima suspeita, torturados, humilhados... Estes lutadores da democracia estão a desaparecer com a erosão da idade. Já poucos restam. Lembro-me, por exemplo, da Eng.ª Virgínia Moura ainda viva, contando como o seu corpo foi brutalmente queimado pelos verdugos do Estado Novo, enquanto estes tentavam, em vão, obrigar a nobre senhora a fazer o que de mais vil alguém pode: denunciar um companheiro!
Fala-se agora da mudança do Museu Militar para o RA5 (Regimento de Artilharia 5, na Serra do Pilar, em Gaia), e não se conhece o destino a dar ao imóvel - a avaliar pelo que tem acontecido, o Ministério da Defesa irá vende-lo a particulares ou deixa-lo ao abandono; ou então, irá ser sede de mais uma obscura repartição ou outro templo burocrático. Pois eu vejo os velhos e a sua memória pessoal a desaparecerem com os anos, e cada vez mais jovens a não fazerem ideia do que foi o 25 de Abril e do que era a Ditadura Fascista que destruía o País até então. E só vejo uma solução: o que é museu, deve continuar museu, mas desta vez da tortura, do terror que se vivia dentro daquelas paredes. Deve-se aproveitar a memória dos que ainda restam para reconstruír celas, salas de interrogatório, instrumentos de tortura...
É urgente empreender um esforço constante para não deixar que os interesses liberais e mercantilistas que tomaram conta da nossa sociedade, apaguem a que eles consideram a subversiva memória de Abril. E enquanto houver memória, haverá sempre alguém que resiste, alguém que diz NÃO à exploração do homem pelo homem, à concepção desta sociedade que não nos permite ser iguais pelo que somos, mas obriga-nos a ser diferentes pelo que temos.
25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais!

1 comentário:

Anónimo disse...

Somente mais uma facada na memória de quem sofreu com tudo aquilo. Dizem que é para fazer um condomínio fechado mas não há certezas, só se sabe que o dinheiro compra tudo