segunda-feira, julho 11, 2005

Terror e Opressão: o ciclo vicioso

Nova York, Madrid, Londres. Gaza, Belfast, Bilbau. Telavive, Srebenica, Bagdad. Atentado, Atenção, Retaliação. Terror e Opressão.
Se o terrorismo é injustificável, imperdoável, repudiável, o contra-terrorismo opressivo é apenas uma forma de legitimar o terror aos olhos dos terroristas. Polémica ideia, esta de dizer que, ao combatermos os terroristas, apenas temos contribuído para o seu encrispamento e para a escalada das suas execráveis actividades. Polémica ideia!
Porque o nosso racionalismo ocidental não encontra racionalidade no terrorismo. Porque não o distingue nas suas formas. Porque receia, fundamentalmente, tudo o que possa comprometer o seu “life style”, o seu quotidiano, a sua paz e tranquilidade, a sua qualidade de vida, o seu “wellfare”, construído, muitas vezes, sobre a exploração dos mais fracos.
Por menos racional que nos pareça um terrorista, isto não nos impede de nos colocarmos no seu lugar, de ver o mundo através dos seus olhos. De tomar uma perspectiva de 3ª pessoa.
Aí, saberíamos que as razões de aterrorizar de um nacionalista basco são diferentes das do palestino. O medo pode ser a arma mais forte dos dois, mas as motivações são distintas. Se no País Basco é o veneno do nacionalismo que corre no sangue desses sápatras, na Palestina é o fundamentalismo religioso que, não sendo fundamento de terror, serve para encorajar gente espoliada há dezenas de anos dos seus direitos fundamentais, a se rebelarem da forma mais eficaz que conhecem, da pior forma possível, mas no entanto, possível.
Nesta altura da minha narrativa, é extremamente importante distinguir justificar de explicar. A meu ver, tem sido a incapacidade desta distinção que tem impedido a compreensão do fenómeno do terrorismo. Eu, como defensor dos Direitos Humanos, considero o terrorismo injustificável. Isso não significa que não seja explicável. Pode e deve ser.
A História tem uma enorme capacidade de explicar o terrorismo. A sua origem foi sempre a opressão e a sua cura foi sempre a integração.
(Atenção, americanos: as palavras opressão e integração não são sinónimos, ao contrário do que as vossas acções têm preconizado.)
Veja-se o exemplo da Jugoslávia de Tito, onde não havia conflitos étnicos ou religiosos. Todos eram membros de uma sociedade, todos trabalhavam para o bem comum. Bastou a fragmentação da bela Jugoslávia ser aproveitada por uns quantos líderes populares e populistas inexcrupulosos, para se assistir a uma escalada de nacionalismo doentio e de fundamentalismo religioso destrutivo.
Assim, oprimir é negar a alguns os seus direitos fundamentais. Integrar é formar uma sociedade assente, sobretudo, na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Integrar é formar uma sociedade respeitadora, por exemplo, da liberdade religiosa. De professar uma religião livremente, o que significa que esta actividade não interfira com a liberdade de outro Ser Humano professar a mesma ou outra religião. Assim, uma sociedade integradora tem, por princípio, que formar um Estado laico.
Que seria de Israel se a sua autoridade enquanto Estado não emanasse de escrituras sagradas? Poderá haver verdadeira cidadania quando alguém que professe dada religião, nasça e tenha que viver num país onde as regras para todos os seus habitantes radicam noutra religião?
Outra faceta da integração é a educação. Educar para os Direitos Humanos, para a cidadania, para a tolerância e solidariedade é essencial para formar sociedades livres e pacíficas.
Ideias como o nacionalismo, a xenofobia, o racismo, podem ser facilmente desmontadas com recurso a uma educação humanista e social.

A nós, cidadãos do Planeta Terra, que assistimos à derrocada da maior parte das sociedades e ao anúncio da doença da civilização contemporânea, resta-nos imaginar um mundo melhor e lutar por ele.

2 comentários:

Rui Valdiviesso disse...

Ficou grande, ficou! Perdoem-me o tamanho e o cansaço nos olhos. Agradeço a paciência de terem lido até ao fim.
Ao Sr. ex-Anônimo, a tirada do "mundo melhor" serve para dizer que jogamos no mesmo clube, mas, indubitavelmente, em posições diferentes.
Quanto ao "imaginar", gostaria de lembrar o espírito do Governo de Salvador Allende, onde as ideias eram mais de Lennon do que de Lenin, mas que, apesar de tudo, os terroristas norte-americanos fizeram o favor de destruir aquilo que bem podia ser um exemplo de sucesso social na América do Sul.
Foi num 11 de Setembro, mas desta vez, grato para os Americanos, do ano de 1973, que o Palácio de La Moneda foi bombardeado. No lugar do Presidente Allende, que se suicidou, foi colocado um fantoche ao serviço da CIA, que fez desaparecer centenas de milhares de pessoas. Pinochet não foi melhor que Saddam nem que Bin Laden. Onde está o terrorismo?

Anónimo disse...

Ficou grande tanto em quantidade como em qualidade.
Acredito que numa equipa existem várias posições, consequentemente jogadores com características diferentes, mas sempre todos com o mesmo objectivo, VENCER.

Juntos podemos vencer esta luta "Por um Mundo melhor".

(Qualquer dia convido umas vedetas pop e realizo um concerto)

Grato pela citação, e já agora vamos fazer mais algumas contratações.

Por um mundo melhor.

Abraço.