O sector da agropecuária estava bem vivo no Portugal dos anos 80, pois as tentativas de uma verdadeira reforma agrária deram grande incentivo a pequenos e médios agricultores e à proliferação de cooperativas em quase tudo o que fosse concelho rural.
A RTP andava atenta a este fenómeno, que se acreditava (e muito bem!) estar na base da economia de um país. Prova disso era o fantástico programa TV Rural, aos Domingos de manhã, apresentado pelo Eng. Sousa Veloso.
Este homem era o suprasumo da simpatia, da cordialidade e da afabilidade. Tratava com o mesmo carinho e dedicação o produtor de tomates do Ribatejo ou o pastor de Ovelhas da Golegâ. Afagava com tanta ternura uma vaca leiteira da Serra de Arga ou uma laranja de Silves. Toda essa reverência pelo produto nacional era parte de uma cultura transversal que começava nas Escolas Primárias, onde se estudava tudo o que era produzido em cada região do país, e acabava nas bancas das mercearias, onde os produtos ali estavam expostos sem a esmagante concorrência da fruta magrebina ou espanhola...
O Eng. Sousa Veloso era um amante das feiras de gado e de toda e qualquer actividade que mostrasse o produto das terras. Andava radiante, entrevistando criadores, gabando as reses, apalpando a fruta, imune ao cheiro das pocilgas e ao pó da terra batida.
Como eram aliciantes esses tempos de esperança... e que imagem dava o programa do sector produtivo em Portugal...Claro que tudo foi acabando com a entrada na CEE... hoje a nossa atrofiada agricultura é uma fonte de subsídios, as pescas são projecteis eleitoralistas na altura das eleições europeias e quase tudo o que comemos vem doutro país. Mais uma vez, os poucos poderosos ganharam sobre os muitos oprimidos... os latifundiários mantiveram direito a terras que não usam, os senhores da europa financeira ganharam-nos os mares e o gado e o leite e as moscas e a dignidade do agricultor...
E a ignorância triunfou, da triste forma que hoje já quase nem sabemos transformar uma espada num arado ou numa caneta. Abril bem tentou, mas falhou... (e um dos verdugos do falhanço anda a farejar uma cadeira que já ocupou!).
Resta-nos a memória do Eng. Sousa Veloso e do seu amor à terra.
E assim me despeço, com amizade...
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