Desde criança que uma ida à Feira do Livro foi sempre um "must" e uma tradição de família. Nesta altura do ano, eu e o meu pai, e mais quem queira lá vai connosco em peregrinação. Lembro-me de ir à feira quando era miúdo no dia da Criança e me oferecerem um livro. Lembro-me das noites em que chovia quando a feira era na Rotunda da Boavista. Lembro-me de ir à Feira do Livro a Lisboa, no Parque Eduardo VII pelo início dos anos 90. Este ano achei a feira paupérrima: triste, sem apelo. Nos últimos anos ligava esse crescente sentimento ao facto de já ter praticamente todos os livros que queria - e os que hipoteticamente gostaria de ter das duas uma: compro as versões na língua original na Amazon por uma fracção do preço ou vou comprando durante o ano. É que eu ganhei uma espécie de horror a traduções que me inibe completamente de ler livros traduzidos. Só em raras excepções aprovo uma tradução. Eu próprio começei a fazer traduções como uma espécia de cruzada contra as traduções de fraca qualidade que fui forçado a ler quando era mais novo. Recordo uma particularmente triste que foi o ciclo do Novo Sol do meu autor favorito, Gene Wolfe. Cada livro dos quatro tinha um tradutor diferente, com as suas linhas mestras de tradução completamente distintas. O que um mantinha em inglês original o outro traduzia... Outro foram as Crónicas de Dragonlance (provavelmente o meu livro de ouro*), da Margaret Weis e da Tracy Hickman - editadas em Portugal, mas com uma tradução brasileira que não há palavras para dizer como odeio. Este ano admito que só queria comprar um livro. Um só. E era das edições técnicas da Plátano. Para minha surpresa essa editora não estava presente. Essa e tantas outras. Mesmo assim lá comprei dois livros que não tencionava inicialmente - mas pronto, foram alvos de oportunidade. Um foi do Arturo Pérez-Reverte - o Hussardo. Um romance histórico acerca dessas unidades de elite do exército de Napoleão aquando da invasão da Península (quem me conhece sabe que adoro o período). Outro foi um livro numerado, edição limitada, acerca da Batalha de Aljubarrota. Originalmente, nos anos 80 custava 60 EUR. Trouxe-o por 15. E pronto, lá viemos para casa, cada um com um saco na mão. Foi triste aquela feira. Antigamente comprávamos dezenas de livros, eram sacas e sacas. Este ano bateu no fundo.
*- O livro de ouro é um conceito do Gene Wolfe que se refere basicamente aquele livro que lê-mos em crianças ou jovens que contribuiu mais para a nossa formação pessoal. É o livro que temos sempre presente.
*- O livro de ouro é um conceito do Gene Wolfe que se refere basicamente aquele livro que lê-mos em crianças ou jovens que contribuiu mais para a nossa formação pessoal. É o livro que temos sempre presente.
1 comentário:
Na Rotunda é que era! E nos jardins do Palácio... Já andam a dizer que para o ano vão faze-la no "aterro" dos Aliados. Enfim... O que eu queria lembrar é que antigamente a feira do livro era uma coisa muito familiar, com os editores em barraquinhas. Nem se sonhava com multibancos nem com livros acompanhados de CD's e DVD's... Era uma espécie de "Queima das Fitas do Livro", um ambiente simples, rudimentar, ao ar livre, ao cheiro das flores de Junho, em que uma nota de 1000$ dava para levar para casa dois ou três bons livritos.
Agora é tudo muito impessoal. Aquelas tendas gigantes dão-me ... murcheza de leitura... Os aparelhos multibanco lembram-me FNAC's... O pavilhão Rosa Mota é um símbolo, mas não substitui o céu nem as árvores nem a chuva.
Valham-nos os alfarrabistas!
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