sexta-feira, julho 08, 2005

Crónica de mais um Verão

08/07/2005. 9h30m. Antas, cidade do Porto.

Os prédios estão tingidos por uma luz laranja pálida, inconsistente com a hora do dia e a altura do ano. Um rápido olhar para o céu desvenda a razão. Um véu cinzento carregado corrompe o azul vivo que a metereologia justificava para um céu de Verão, filtrando a luz solar. Nas ruas, uma anormal quantidade de partículas, um pouco à semelhança de uma pequena praga de insectos, esvoaça por entre os transeuntes.

Cinzas.

Sintomáticas dos 21 fogos que lavram no distrito do Porto.

Continuamos sem solução para um problema crónico, agora agravado pela severa seca que o País atravessa.

7 comentários:

Rui Valdiviesso disse...

No tempo do Salazar, não havia incêndios nas florestas. Nada disto acontecia. Continuo a defender a minha solução: pôr um Salazar em cada floresta!

Agora a sério. Que é feito dos Serviços Florestais? As velhinhas casas da Guarda Florestal que ainda existem, estão ao abandono. Será que não havia vantagens em reestruturar esta força de segurança?
Como são geridas as Matas Nacionais? E as matas de privados, que autoridade tem o Estado sobre elas?

Gestão sustentável de recursos, é a expressão correcta para definir o que tem que ser feito, duma vez por todas. E isso passa também pelo fim do lobby papeleiro, pela limitação radical dos eucaliptais.

As medidas que este País necessita têm, obrigatoriamente, que saír do bolso daqueles que, durante anos, exploraram a classe trabalhadora.

F.S. disse...

Antigamente as matas andavam todas "rapadas" porque os agricultores usavam o mato para "forrar" as "cortes" dos animais. Hoje em dia "forram" as carteiras com fundos e nem o que é deles limpam. É o que acontece em 90% das nossas aldeias. É o progresso...

Pessoalmente acho que as autarquias devem forçar os donos dos terrenos em área florestal a terem-nos limpos de manta morta em excesso.

Anónimo disse...

Realmente é muito triste assistir a este espectáculo todos os verões. Acredito que daqui a uns anos (poucos) deixaremos de ver esta vergonha, não porque qualquer governo tenha tomado medidas mas sim porque toda a nossa floresta foi toda consumida.

Permitam-me deixar aqui uma ideia: porque não utilizar aqueles senhores que ganham o rendimento mínimo a limpar matas e florestas? Porque não utilizar os presos, para eles até era bom! E já agora que tal colocar alguns políticos a fazer o mesmo, a vergar a mola?

Por um mundo melhor!

F.S. disse...

tg98 disse: "utilizar aqueles senhores que ganham o rendimento mínimo a limpar matas e florestas?"

...E por-lhes uma estrelinha amarela no braço para serem sempre identificados onde quer que vão!

"Porque não utilizar os presos, para eles até era bom!"

Não nos toques, náo cantes o beat à americana que esse nós já conhecemos na versão original... A nova constituição Europeia previa esse "trabalhos forçados". E porque não xerifes a cavalo a guardar os presos agrilhoados?

"E já agora que tal colocar alguns políticos a fazer o mesmo, a vergar a mola?"

Absolutamente. Os políticos saltaram muitos degraus na escada da hierarquia, para quem como eles, julga estar no topo.

Anónimo disse...

CAro F.S sinceramente não vejo qual é o problema de colocar uma estrelinha no braço. Quando quiser podemos ter uma conversa sobre o que a maioria das pessoas que vivem com o rendimento mínimo fazem. Posso dizer-lhe que a minha vida profissional faz-me lidar todos os dias com gente que pede para as despedir para irem para o fundo de desemprego e depois ir roubar postos de trabalho fazendo uns "biscates". Devo acrescentar que o RMG era uma excelente ideia mas para países civilizados, não aquele em que vivemos, onde 90% das pessoas que vivem desse rendimento recebem-no porque querem e não por necessidade. No País Real, onde a minha empresa está implantada, existem várias pessoas a ganhar subsídio de desemprego e a ocupar lugares relativamente importantes da organica da empresa.

Não vejo mal nenhum em colocar o pessoal a trabalhar, agora ganhar dinheiro e não fazer nada já nos chegam os políticos, não acha?

Em relação aos presos, eles não precisavam de xerifes, acho que era bom para eles porque assim vinham arejar, e porque não ganhar mais algum dinheiro.

Por um Mundo melhor.

Abraço.

F.S. disse...

Eis o cerne da questão - eu arrisco a dizer que o RMG é fundamental em países civilizados! Infelizmente quem o atribui, não está muito preocupado em saber a quem - e esta crítica vai directamente para as autarquias e para os inpectores da segurança social, que como outros, são vítimas do tráfico de influências. Isto é válido para o RMG e para o desemprego, mas não confundamos as coisas. O RMG cai do céu para quem o recebe. O fundo de desemprego só existe para quem tenha descontado, por pouco que fosse. No segundo existe, claro está, muita gente no que trabalha e faz "biscates" pois então! Privei com um grupo de desempregados por algum tempo e talvez a maioria deles fizesse "biscates". Uns estavam na situação de continuar a trabalhar na mesma empresa mas estar no desemprego (por conveniência quer de uns quer de outros). Outros por especificação de funcões (eram ourives), trabalhavam em casa quando podiam. No entanto, não compreendo porque um trabalhador possa preferir estar no desemprego em vez de estar vinculado a uma empresa onde continua a exercer funções. Isso só trás vantagens óbvias para a empresa ou não? Ou o trabalhador ainda recebe ordenado para além do subsídio? Com os que falei nesta situação era isto ou o vínculo ténue era definitivamente rompido e com 40 e tal anos torna-se díficil encontrar novos empregos...

Anónimo disse...

A culpa aqui pode ser perfeitamente dividida entre o (des)empregado e o empregador, isto porque ambos saem a lucrar(?).
- Nenhum paga impostos
- O empregador sente-se mais à-vontade por não ter obrigações para com o empregado
- O empregado acaba por ganhar muito mais dinheiro

Posso dizer que quem tem o RMG ou o subsidio de desemprego não pensa em trabalhar legalmente, porque não compensa.

Falta de inspecção? Concordo plenamente, se pelo menos uma pessoa fosse apanhada, o dinheiro podia ser aplicado num jovem recém-licenciado, pagando-lhe o estágio...

Por um Mundo melhor.

Abraço.