O insólito, quando ocorre, levanta sempre novas questões, e recorda velhos assuntos já esquecidos.
Passava eu há pouco por uma rua, quando me deparei com uma imagem de grande competência e consciência: uma meretriz varria, afincadamente, a sua esquina.
Talvez preocupada com o pó das obras que polulam na Cidade do Porto, e da sua influência na sua garganta, aparelho fundamental da sua profissão - como ferramenta apregoadora dos seus serviços, claro - a dita mariposa lá arranjou uma vassoura e pôs-se a varrer aquele pequeno pedaço de rua que lhe calhou em sorteio ou em convénio.
Estas preocupações são louváveis numa altura em que os riscos profissionais não se ficam por meras doenças contagiosas que se tratavam com penicilina. Já la vai o tempo...
Mas se esta lupanarina teve tão memorável preocupação, outras há que nem esta nem outra higiene se lhes afigura no cumprimento das suas obrigações profissionais.
Quando será que, num Estado de Direito em que vivemos, aquela profissão é legitimada?
A bem da saúde pública, num país onde a taxa de contágio de HIV cresce em homens com mais de 50 anos, algo devia ser feito neste aspecto, com obrigações de parte a parte. Obrigações que passam por controlo dos meios em que as actividades profissionais se dão, em termos de salubridade dos locais, utilização de métodos de barreira contra infecções, seguros de saúde e "check-ups" regulares, etc.
Legalizar a prostituição é, também, contar com uma maior fonte de receitas em impostos, com IVA a 21%, claro.
Num País que já se encontra submerso pela dependência do grande sector financeiro privado, são os profissionais liberais que têm que contribuir, por via da inovação e investimento, na dinamização da economia.
Por isso, deixem-se de tretas e liberalizem aquilo que tem que ser liberalizado.
6 comentários:
Isso é mais fácil de resolver do que tu pensas. Os clientes habituais são,todos da alta não é o Zé da esquina que consegue adquirir produto de qualidade. Elas(eles)que vão todas para casas do género, já existem muitas casas mas estão escondidas, tirar essas mulheres das ruas era muito positivo assim já não tinhamos que ver velhas asquerosas na rua e imaginar quem é que têm coragem de ir "lá". Controlo de qualidade é necessário.
Outra coisa que seria bastante interessante era as casas começarem a concorrerem umas com as outras. Fazer publicidade tipo "- Dê duas ( se conseguir) e pague uma. Ou " se recomendar a um amigo ganhe um bónus de 10 minutos.
Um caso a pensar
Sublime texto caríssimo amigo!
Caro Fernando: De facto esse género de publicidade já existiu (ou existe) - não é nada de novo.
De facto José Vilhena escreveu um texto em relação a este assunto - cá vai na integralidade:
"Há dias a televisão mostrou mais uma eleição de misses e as meninas lá surgiram exibindo as suas carnes todas parecidas umas com as outras e sem nada de especial para o conhecedor exigente.
Embora sem qualquer interesse, quer estético, quer erótico, este programa teve, pelo menos uma coisa a seu favor: lembrou-nos as velhas casas de putas de antigamente.
Quem é que – sendo desse tempo e vendo agora desfilar umas gajinhas insípidas, a quem não apetecia dar sequer uma foda rápida – se não recorda do ambiente típico, castiço, dessas antigas casas, monumentos ao sexo e que vendiam produto de boa qualidade, diversificado, para todos os gostos?
Ali não se impingia gato por lebre. Era impossível. O cliente cheirava, apalpava, tirava a prova. E se era enganado não voltava tão depressa enquanto o mercado lhe oferecesse artigo de melhor qualidade. E Lisboa tinha muito por onde escolher, desde o famoso 100 da Rua do Mundo (com preços diferentes no 1 ° e 2° andares) até à Madame Blanche na Rua da Glória (cona, cu e broche), passando pelo 142 da Rua Diário de Notícias, o 5 da Rua da Barroca, o 8 da Travessa da Água da Flor, a Madame Calado, ao Rossio, casa fina e cara (onde iam os ministros e directores gerais), até às casas no Intendente, na Mouraria (para operários) na Rua Luciano Cordeiro (para mangas de alpaca)... e por aí a fora.
Recordamos a respeitabilidade, a ordem burguesa ali pontificando. Eram lugares sacralizados, com tradições e cerimonial mantidos a preceito: as boas vindas, denunciando a categoria do cliente, o bater das palmas com que a «patroa» ordenava «Meninas à sala», a expectativa gerada nos clientes, finalmente o desfile. Lá vinham elas, em fila indiana, exibindo as suas coxas e as suas mamas, fazendo as poses que mais lhe favoreciam os encantos, recebendo elogios da «patroa» que ia sublinhando a firmeza da mama, o aveludado da pele, a perfeição da coxa, o roliço da anca.
E os apresentadores destes modernos desfiles de mulheres, na TV, que são os concursos de beleza, que é que elogiam? Nada. Afinal eles não podem sublinhar nenhum atractivo, nenhuma diferença, porque elas, misses, são todas iguais: como que de plástico. Nem sequer realçam as qualidades profissionais das meninas. O cliente (espectador) não fica a conhecer as suas habilidades sexuais, os gostos, o temperamento, as taras na cama. Quando muito dizem que a menina gosta de cinema, de andar a cavalo, de ver televisão e que o seu sonho é ser modelo. Ora bolas.
Outro senão nestes desfiles de misses é que nunca se fala em preços – coisa que nas velhas casa de putas era primordial. Jogava-se limpo. O cliente não podia queixar-se de ter sido enganado.
E, enquanto que estas misses dos desfiles são todas iguais, estereotipadas, copiadas a papel químico, nas velhas casas de tias havia para todos os gostos: gordas e magras, altas e baixas, novas e velhas, até zarolhas, coxas e desdentadas. Enfim, o cliente, por mais exigente (e depravado) que fosse, tinha por onde escolher. Não havia tara que o cliente tivesse, por mais insólito e extravagante, que não tivesse ali o seu contraponto.
Estes reparos não visam desencorajar os concursos de beleza da TV. De modo algum. O que é preciso é introduzir-lhe outra dinâmica, como agora se diz. Que o ambiente seja recriado com mais realismo e com alguém que desempenhe convincentemente o papel de «patroa». Que tenha imaginação e saiba pôr o produto em evidência.
Não, leitor, isto não é sentimentalismo gagá nem libidinosa morbidez. Os velhos bordeis são património e fazê-los reviver para os jovens, que já os encontraram fechados por um controverso decreto-lei é um acto de cultura.
Daí que tanto nos empenhemos, atrevendo-nos a sugerir um nome: por que não convidar a imaginosa e dinâmica Tereza Guilherme para futuras apresentações das misses na TV ? Ela, melhor do que ninguém, desempenharia a preceito a rábula das antigas «patroas», com o Herman José a fazer o papel daquela bichona que havia sempre nas casas de putas a levar ao quarto os paninhos e o jarro de água quente para o bidé. A Tereza conhece o artigo como poucas, daria boa conta do encargo. Pois, a sugerir cenas eróticas, taras invulgares, posiçõs que nem o Kamasutra ou o Marquês de Sade, não conhecemos melhor. Os espectadores agradeceriam e a televisão empochava mais umas massas, que é o que querem os patronos do Canais TV."
A sabedoria do Vilhena não tem par.
Caro Fernando, o que era preciso eram meninas "legais", não era? Mas "legais" no sentido brasileiro da palavra.
Caro F.S., obrigado pelo elogio e pelo complemento.
Sim senhora gostei do texto. Mas coragem para voltar a existirem casas assim em Portugal? As beatas de Portugal não deixam isso acontecer preferem que as desgraçadas continuem na rua, assim podem fazer espionagem pelas suas janelas para ver quais são os clientes habituais, e comentarem no dia de Domingo depois da missa.
Só posso dar aquele grito de epiranga severamente conhecido " - PUTAS AO PODER QUE OS FILHOS JÁ LÁ ESTÃO"
um bem haja para todos
bom comeco
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