segunda-feira, novembro 07, 2005

O Periquito Assassino I

Como é que um país na cauda da Europa em ternos de educação e saúde, gere as suas expectativas relativamente à gripe das aves?
Com alarmismo, claro! Pois é isso que vende jornais e dá audiências aos noticiários. Um alarmismo bacoco e descontextualizado do problema real, com laivos de ignorância transeunte e histeria de mercadores da inocente passarada.
No outro extremo, assiste-se aos especialistas da área, sempre eruditos e ecléticos, discutindo a denominação correcta do vírus e as diferentes estirpes.
E a raiz do problema?
Fala-se de medidas de saúde pública, de remédios, vacinas, galinhas e pombos, mas ainda não ouvi uma explicação razoável sobre de onde veio o malfadado vírus, porque apareceu e porque se disseminou.
Estamos no país dos “bitaites”, onde quem vai à televisão falar destas coisas é quase sempre o médico, que por sua vez é amigo comum de um Secretário de Estado e do director de programas e que tratou a papeira ao filho do jornalista que conduz o debate.
A figura central do médico, sobrevalorizada, dava azo para muitos posts dedicados ao medicocentrismo do sistema de saúde.
Claro que os médicos têm uma palavra a dizer neste assunto, tal como os veterinários. Mas o problema é muito mais abrangente, e a sua foice só entra na seara do mal que já está feito.
Um vírus deste tipo só pode ter surgido em condições de grande intervenção antrópica, ou seja, fomos nós que lhe demos uma mãozinha, e estamos a sofrer as consequências disso.
O que eu pretendo afirmar é que o tal vírus não surgiu por acaso na Natureza, mas é uma criação potenciada pela exploração humana de certas espécies de aves. É o protesto desesperado das galinhas de aviário por melhores condições de vida.
Mais: é a velha história do certo e errado, do bem e do mal, do compromisso entre o consumo e a sustentabilidade.
Como?
Aqui vai: qualquer espécie de animal social se distribui num dado espaço de acordo com as reservas deste, sendo que esta distribuição é um comportamento que resulta de milhões de anos de evolução genética, de adaptação a um ambiente às suas condições.
O Homo sapiens, toldado pela sua pretensa superioridade sobre as outras espécies, perverteu esses comportamentos naturais, forçando grandes “culturas” de animais que visam a máxima rentabilidade numa área mínima.
Assim, temos aviários onde centenas de milhares de aves estão confinadas a espaços pequeníssimos, em oposição com o espaço que essas aves necessitariam para ter uma vida minimamente digna.
Quando falo em dignidade animal, neste caso específico, refiro-me à sua protecção contra o contágio de agentes patogénicos.
Cada comportamento animal tem inerente uma medida de riscos e benefícios. Assim sendo, os animais que vivem em sociedades com um certo nível de organização, fazem-no porque as vantagens (exploração de recursos alimentares, baixa dispersão reprodutiva, estratégias de fuga aos predadores) são maiores que as desvantagens (maior incidência de contágio de parasitas, vírus e bactérias, competição por recursos, etc.…).
A evolução beneficiou, portanto, os animais socialmente mais aptos, espalhando os seus genes numa população.
As aves de capoeira não são estranhas a esta teoria. Basta observar meia dúzia de galinhas e um galo num pequeno terreiro para constatar que existem áreas preferenciais para a alimentação, para a postura, diferentes tipos de relações hierárquicas, o domínio do macho… E isto tudo em aves domesticadas. Já nem falo em aves selvagens!
A grande perversão destes instintos sociais é forçar o aumento exponencial do número de animais por unidade de área – o aviário.
Imagine o leitor um pequeno espaço onde sobrevivem apertadíssimas, centenas de milhares de aves, para exploração de carne ou ovos. A probabilidade de contágio aumenta exponencialmente!
É por demais conhecido o uso de antibióticos nos aviários, para combater as doenças normais que surgem com estas situações. Mas mesmo com uma grande mortalidade de indivíduos, continua a ser rentável criar em aviários. Uma área reduzida exige poucos funcionários e menores gastos em energia e limpeza. E se em 100 000 galinhas morrerem umas 3 000, não há grande prejuízo para o avicultor.
Com o contágio assim facilitado, aumentam também as probabilidades de mutação de vírus. Terá sido assim que surgiu a gripe das aves, algures no Oriente, e é neste contexto que as estirpes dos vírus se podem diferenciar, não sendo de todo absurdo considerar que uma dessas mutações possa tornar possível o contágio humano-humano.
Esta é a forma que as aves têm, metaforicamente, de protestar contra as suas condições de vida, avisando-nos que o que fazemos à Natureza, mais tarde ou mais cedo, se reflecte em nós.

E como este post está a tornar-se enorme e cansativo, deixo-vos com uma boa dose de argumentos geniais, escritos por João Alves, 17 anos, sobre os princípios da discriminação e preconceito em relação às outras espécies, e que o leitor pode encontrar na secção dos comentários.

Regressarei em breve com muito mais sobre as aves migratórias, os dejectos e as ratazanas com asas.

2 comentários:

Anónimo disse...

O Valor da Vida Animal e a sua subjugação pelo Pensamento Antropocêntrico


No meu ensaio argumentativo, vou tentar demonstrar que os animais têm direitos, e que tal como nós deveriam ter uma carta de direitos, a qual lhes conferisse uma igualdade, ou uma consideração igual em relação aos humanos, tornando a nossa sociedade menos discriminativa em relação ás outras espécies.
Para tal, penso ser necessário mencionar o porquê da necessidade da atribuição desses direitos aos animais, através de uma mínima exposição do que nós humanos fazemos às outras espécies, e das origens de tais actos de tirania. Hoje em dia, os não humanos são mortos e maltratados aos milhões por razões triviais e fúteis, as quais em nada favorecem a nossa espécie, e muito menos as deles. Alguns exemplos desses actos são experiências laboratoriais que matam milhões de animais, e conferem a outros tantos comportamentos não naturais e problemas psicológicos, tendo apenas por base o interesse do estudo comportamental e das reacções corporais que os animais possam demonstrar sendo expostos a situações traumáticas ou a radiações, assim como a químicos. Estas práticas são normalmente realizadas em símios, pois aparentemente são os animais que tem uma maior similaridade em relação a nós num equilíbrio entre o físico e o psicológico. Mas a experimentação em animais não se fica por aqui: existe a modificação genética, por exemplo, a qual é feita em muitos animais, que morrem precocemente devido a deficiências no seu organismo, as quais muitas vezes enquanto estes são vivos lhes proporcionam uma vida em agonia. Outro dos mais comuns e mais conhecidos actos que demonstram o quanto o homem é um ser tirano é a caça furtiva, a qual mata sem precedentes milhares de animais por ano, fazendo com que certas espécies estejam em vias de extinção, e tudo normalmente para fins lucrativos, como vender as peles, a carne para o uso na gastronomia, e a empalhação para venda posterior a coleccionadores. Estas poucas práticas demonstram como o mundo está, em grande parte, dominado por um comportamento “especista”. Utilizo o tema especista por analogia em relação ao sexismo e ao racismo, sendo esta uma atitude de favorecimento dos interesses dos membros de uma espécie em detrimento dos interesses dos membros de outras, o qual pode levar a um futuro muito pouco promissor se certas medidas não forem tomadas imediatamente.
Apesar de tudo, o especismo não é algo que foi subitamente descoberto agora. Aliás, é algo que já existe há muito tempo, e que reside numa atitude, numa ideologia que foi adoptada e desenvolvida através do cristianismo e da Bíblia, pois é onde se pode primeiro verificar traços do mesmo. A primeira alusão ao especismo na Bíblia é o facto de o Homem ser considerado uma criação especial, por ter sido criado à imagem de Deus, e por ter sido a nós dado o domínio sobre todos os não humanos, mas o exemplo mais conhecido, é o mito de Adão e Eva, aos quais Deus permitiu que vivessem no Jardim do Éden, um suposto paraíso perfeito onde tudo era harmonioso, de onde estes vieram posteriormente a ser expulsos, responsabilizando a Bíblia uma mulher e um animal (claro exemplo de sexismo e de especismo). Estes e outros exemplos estão presentes na Bíblia, tendo estes sido lidos e transmitidos por muitos cristãos, influenciando imediatamente o comportamento em relação aos animais. Podíamos talvez pensar que se o cristianismo se tivesse mantido uma religião minoritária, talvez esta questão não fosse levantada actualmente, mas mesmo em civilizações como o Império Romano existiam actos contra os animais e um exemplo claro disso são os “jogos”, onde eram feitas lutas entre todo tipo de animais na arena do coliseu em frente a milhares de pessoas para o seu entretenimento. Após o Império Romano criaram-se condições para que o cristianismo fosse divulgado, a divulgação do latim, a criação de estradas fizeram com que se pudesse comunicar entre vários povos e que quem quisesse divulgar a religião não tivesse tanta dificuldade em se deslocar. A partir de então, poucas foram as alterações significativas que a ideologia especista sofreu, assim como foram poucos os que decidiram demonstrar ou expressar a sua solidariedade e compaixão para com os animais, que sempre foram considerados como seres desprovidos de interesses, de vontade própria, e uma vez que eram seres inferiores, não havia qualquer razão para nos preocuparmos com a sua integridade.
Estas foram provavelmente as causas mais relevantes do alargamento do especismo, tendo nós agora que pensar se os animais realmente merecem ser tratados assim, e se devemos continuar com a nossa atitude, ou se pelo menos devemos parar para reflectir no que estamos a fazer aos animais não humanos. Uma das perguntas que temos de fazer a nós próprios é se gostaríamos que nos fizessem a nós o que nos fazem a eles? A resposta é óbvia, CLARO QUE NÂO! Mas isto não é o suficiente para lhes atribuirmos qualquer direito, é apenas uma demonstração de que não nos sentiríamos bem se fossemos animais, que talvez não seja moralmente correcto maltratarmos os animais. Para que possamos demonstrar que os animais têm direitos, temos que nos basear no princípio básico da igualdade, o que não quer dizer que nós sejamos iguais aos animais não humanos, e que tenhamos de os tratar de igual modo como tratamos os da nossa espécie, mas quer sim dizer que devemos ter uma consideração igual por eles. Esta consideração igual que nos é imposta é preocuparmo-nos tanto com o seu bem-estar assim como por um outro qualquer humano. Para exemplificar a atitude que devemos ter, vamos fazer uma pequena comparação, suponhamos que temos um gato de estimação, ao qual deveríamos dar de comer ás cinco horas, mas como estamos fora de casa não nos apetece, ou é-nos conveniente não ir para casa para dar de comer ao animal, e provavelmente até ficamos até mais umas horas fora de casa. Se em vez de um gato tivéssemos um filho com uma idade compreendida entre poucos dias de vida e seis anos, nós estaríamos em casa até antes da hora, isto demonstra facilmente que não temos uma consideração igual por seres que não são da nossa espécie.
Se tivermos em consideração igual os outros animais, podemos dizer que estes podem ter interesses. Mas alguém pode afirmar que os animais não têm interesses porque não podem pensar de maneira complexa, ao que se pode facilmente responder que a questão de um animal ter interesses ou não deriva do seu sofrimento, se nós não alimentarmos o gato do exemplo anterior, este ficará com fome, a qual pode ser considerada como um tipo de sofrimento. Visto isto, é do interesse do gato ser alimentado para que não passe fome.
A melhor maneira de atribuir interesses a um ser, é através da sua capacidade de sentir alegria, tristeza, prazer, dor, e outras sensações, e uma vez que tanto o ser humano como os não humanos têm sistemas nervosos idênticos, podemos constatar que eles poderão também sentir as mesmas sensações que nós. É possível que alguém mais céptico pergunte como sabemos nós que um não humano está a sofrer, podemos fazer uma pergunta a essa mesma pessoa como sabe ela que um ser humano está a sofrer. A pessoa a quem fizemos a pergunta pode responder de duas maneiras, uma delas é alegando que o facto de o ser humano ter a faculdade de articular um discurso complexo lhe permite melhor descrever o que está a sentir, mas esquecem-se que os humanos mentem muitas vezes sem qualquer problema, não sendo esta uma razão válida. Outro tipo de resposta pode ser o facto de o ser humano que está a sofrer demonstrar certos comportamentos corporais que nos levam a crer que este está a sofrer, continuando esta a não ser uma prova palpável pois os seres humanos também podem mentir a esse respeito, enquanto os animais ao não terem o córtex tão desenvolvido, o qual é responsável pela nossa complexidade mental, não podem mentir, logo os seus sinais comportamentais de sofrimento têm necessariamente que ser verdadeiros.
Agora que já vimos que nós humanos e os não humanos somos semelhantes no que diz respeito a todos os aspectos relevantes, podemos dizer que tanto nós como eles possuímos direitos invioláveis em relação à nossa integridade física e mental, mas temos que ter em conta que a extensão do principio básico de igualdade de um grupo a outro, não implica que devamos tratar ambos os grupos exactamente da mesma maneira. Isto quer dizer que quanto à atribuição de direitos, esta deve ser feita diferente, não beneficiando os humanos nem os não humanos, mas sim, atribuindo-lhes direitos de acordo com a sua espécie e natureza. Por exemplo, não vamos dar o direito de votar a um cavalo, pois ele não possui a capacidade mental que lhe permite tomar tal decisão. Assim, os seus direitos em relação aos nossos devem ser mais simples em algumas questões, e mais complexas noutras, provavelmente no que diz respeito à alimentação e a matar, uma vez que penso não ser possível de todo impormos qualquer norma no que diz respeito ao que os animais devem comer e se é justificável fazerem-no, sendo incorrecto da nossa parte se o pudéssemos fazer, pois não estaríamos a fazer mais do que aquilo que fazemos agora, usar o nosso intelecto superior para fazer valer a nossa vontade sobre os outros seres.
Desta maneira penso que ao atribuirmos direitos aos animais e posteriormente uma carta dos mesmos, estaríamos a zelar pelo futuro dos mesmos e a fazer com que e a convivência harmoniosa entre nós fosse algo cada vez mais próximo e possível.

João Alves

Anónimo disse...

perdeu-se uma boa oportunidade para matar as pombas e gaivotas!!! aposto que o mundo ia ser muito melhor.
Quanto à doença da gripe é uma moda nova para vender jornais. Já foi as vacas loucas etc etc tudo isto por nao haver fiscalização sobre a criação de animais,
As condições de vida a que eles estão sujeitos é nojenta